Estado oficializa o Modo de Fazer Artesanato com a Palha de Butiá como patrimônio cultural imaterial do RS
Processo é feito por famílias de Torres há mais de 150 anos e foi reconhecido na tarde desta quinta-feira
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O Sistema Cultural e Socioambiental do Modo de Fazer Artesanato com a Palha de Butiá na Região de Torres tornou-se um patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul. A oficialização ocorreu na tarde desta quinta-feira (17), Dia do Patrimônio Histórico, em uma cerimônia realizada no Memorial do Rio Grande do Sul. Na oportunidade, foi assinado o termo de registro em que o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae) reconhece o valor histórico-cultural do processo de produção do artesanato com a palha de butiá, uma atividade que persiste por seis gerações de famílias rurais de Torres, Litoral Norte do Estado. Este é o segundo registro dessa natureza no Rio Grande do Sul - o primeiro foi a Erva-Mate Tradicional, envolvendo o seu cultivo e a comercialização.
A solenidade de hoje contou com a presença da secretária de Estado da Cultura, Beatriz Araujo; do diretor do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), Renato Savoldi; do diretor do Departamento de Memória e Patrimônio da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), Eduardo Hahn; da diretora do Memorial e Museu Antropológico do RS, Letícia de Cássia; do prefeito de Torres, Carlos Souza; e da coordenadora de educação ambiental do Instituto Curicaca, Patrícia Bohrer.
O Instituto Curicaca deu início ao processo de reconhecimento do modo de fazer artesanato com a palha de butiá em 2003, em parceria com o Iphae. A proposta técnica apresentada pela entidade integra o projeto cultural contemplado com recursos do governo do Estado, por meio do Edital Sedac 11/2013.
Também participaram da cerimônia desta quinta-feira a representante do Colegiado de Memória e Patrimônio, Angelita Peixoto; a representante do Colegiado de Museus e diretora do Museu da UFRGS, Eliane Muratore; a representante da Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial do Estado, Maria Helena Santana; o presidente da Câmara de Vereadores de Torres, Rogério Jacob; o secretário de Turismo e Cultura de Torres, Dérick Machado da Silva; a diretora de Cultura de Torres, Taísse Nascimento - além de outras autoridades políticas, culturais e da área da educação.
Na abertura do evento foi apresentado um vídeo sobre as técnicas do modo de fazer artesanato com a palha de butiá na região de Torres, produzido pelo Instituto Curicaca, em parceria com a assessoria de Comunicação da Sedac.
A secretária da Cultura, Beatriz Araujo, destacou o momento inédito na cultura gaúcha e relembrou o trabalho de conservação do patrimônio do Rio Grande do Sul desenvolvido pela Sedac. "Neste momento, que é tão importante, tão potente para a cultura do Rio Grande do Sul, quero cumprimentar também o pró-reitor de pesquisa, José Antônio Figueiredo, agradecendo a presença da nossa Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), porque tudo que foi dito aqui e visto no vídeo mostra o quão relevante é este trabalho que une a sociedade e os poderes públicos".
Beatriz disse ainda que "é um momento de grande alegria poder entregar o segundo reconhecimento de patrimônio cultural e imaterial a Torres". E que é "a partir desse trabalho de tantos anos do Instituto Curicaca, com sua resiliência e perseverança, que agora temos o reconhecimento do poder público e das pessoas que fazem parte desse processo", finalizou Bia.
Para Renato Savoldi, "hoje firmamos o compromisso para que vidas continuem a trançar sentidos materializados em artesanato. Através deste ato, o Estado do Rio Grande do Sul compromete-se com a salvaguarda de um conjunto de saberes e técnicas que atravessam gerações, tramando identidades em artesania de alma. Tal como o trançar com a palha de butiá, o ato de salvaguardar, de garantir essa continuidade deste bem cultural, é um ato construído com diálogos, paciência, esforço e diferentes tipos de investimento", enfatizou o diretor do Iphae.
Em sua fala, o prefeito de Torres, Carlos Souza se disse "muito feliz" por estar vivenciando esse momento. "Olhando para as meninas, ouvindo os depoimentos, as histórias, eu lembrei de uma senhora da Vila São João, onde eu nasci. Ela ficou naquela casinha até a morte, fazendo trabalhos com a palha de butiá. Lembrei da minha vó, com os netos todos a volta, com um monte de roupas de palha. São lembranças que por vezes a gente esquece, mas isso é a tradição, é a história, isso é a nossa essência como torrenses", destacou o prefeito.
Histórico do processo de reconhecimento
Há 20 anos, o Instituto Curicaca, em parceria com o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico do Estado (Iphae), iniciou o processo de reconhecimento da cultura do modo de fazer artesanato com palha de butiá, transmitida de mãe para filha, por seis gerações de famílias rurais de Torres.
A arte a partir da palha de butiá tem significados históricos, econômicos, sociais, ecológicos, estéticos e afetivos, em uma territorialidade própria, que é o ecossistema dos butiazais. Além da preservação da cultura e da valorização econômica dos produtos artesanais locais, o reconhecimento da arte das mulheres de Torres é uma vitória na busca da preservação ambiental dos butiazais no Litoral Norte. Isso se deve ao fato de que o trabalho manual requer como matéria-prima fundamental as folhas secas e tratadas dos butiás. Com elas, é feita a trança, que é o elemento principal para a confecção de chapéus, bolsas e tapetes.
Nota Técnica do Iphae do processo de Registro
A Nota Técnica do Iphae relata o histórico do processo de Registro do Modo de Fazer Artesanato com Palha de Butiá na região de Torres. Em 2016, foi entregue ao Iphae o Ofício nº 004/16 pelo Instituto Curicaca, contendo a Proposta Técnica de Registro do modo de fazer artesanato. O projeto foi executado por uma equipe multidisciplinar e teve como objetivo a salvaguarda do artesanato com palha de butiá. Após a promulgação do Decreto 54.763, em 2019, o processo de Registro foi retomado.
O inventário foi atualizado em 2021 e recebeu parecer positivo em novembro de 2022. O processo foi encaminhado para a Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial e recebeu parecer positivo em março de 2023.
Bem imaterial
Em junho, o governo estadual oficializou a erva-mate como o primeiro patrimônio cultural imaterial do Rio Grande do Sul. Quando um bem se torna patrimônio cultural significa que ele tem relevância artística, histórica e social para ser perpetuado. No caso de bens materiais, como conjuntos arquitetônicos, jardins e obras de arte, ocorre o tombamento. Quando se trata de bens de natureza imaterial, tem-se o registro.
Os bens culturais de natureza imaterial dizem respeito àquelas práticas e domínios da vida social que se manifestam em saberes, ofícios e modos de fazer; celebrações; formas de expressão cênicas, plásticas, musicais ou lúdicas; e nos lugares (como mercados, feiras e santuários que abrigam práticas culturais coletivas).
Erva-mate, o primeiro registro
Em junho de 2023 foi firmado o primeiro registro em que o Estado do Rio Grande do Sul reconhece como patrimônio cultural, de natureza imaterial, o Sistema Cultural e Socioambiental da Erva-Mate Tradicional. Em 2022, o Iphae, instituição vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), apresentou parecer técnico, que foi apreciado pela Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial (CTPCI).
A entrega do parecer de recomendação integrou as comemorações da 4ª edição do Dia Estadual do Patrimônio Cultural e marcou a sessão inaugural das atividades da Câmara Temática do Patrimônio Cultural Imaterial (CTPCI), em 2022. O órgão colegiado é presidido pelo diretor do Iphae e constituído por representantes de instituições públicas, privadas e da sociedade civil.