Governo do Estado do Rio Grande do Sul
Secretaria da

Cultura

Início do conteúdo

Secretaria da Cultura lamenta a morte do ceramista Francisco Brennand

Publicação:

Francisco Brennand (1927-2019)2019 12 19 at 15 20 58
Francisco Brennand (1927-2019) - Foto: Reprodução: GPSlifetime
Faleceu na manhã desta quinta-feira (19), o consagrado artista pernambucano Francisco Brennand (1927-2019). Sua última exposição em Porto Alegre, intitulada “Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo”, no Santander Cultural, com curadoria de Emanuel Araujo, recebeu o prêmio de melhor exposição do ano de 2016, concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte - ABCA.
 
O artista participou recentemente com texto de sua autoria sobre cerâmica no catálogo da exposição “Adriana Giora - No Limiar do Jardim”, realizada no MARGS, além de ter confirmado interesse em doar uma obra de sua autoria para o acervo do Museu de Arte Contemporânea do RS - MACRS.
 
A Secretaria de Estado da Cultura, através do seu Instituto Estadual de Artes Visuais (IEAVi), reconhece o legado deste artista que forjou sua carreira erudita nos ateliês que percorreu na Europa e, não obstante a distância da Academia, sempre foi acompanhado dos seus verdadeiros heróis na literatura, como Dostoiévski, Cervantes e Shakespeare, para citar apenas alguns da sua vasta biblioteca pessoal.
Ligado a vida e ao contexto destes artistas, Francisco Brennand transgrediu matéria e espaço para fazer surgir uma das obras mais provocantes do mundo contemporâneo. Completados 92 anos no dia 11 de junho de 2019, o artista pernambucano continuava produzindo ativamente suas obras. Esculpir, pintar e desenhar são apenas algumas das diferentes atividades que desenvolveu em seu museu-oficina, localizado no bairro da Várzea, a 20 quilômetros de Recife, onde abriga cerca de duas mil esculturas ao longo de 14 mil metros quadrados de jardins, pátios e lagos.
 
Sua inestimável e eterna contribuição para a história da arte está em ter construído este espaço permanente para o aprendizado do nosso olhar e das gerações futuras que hão de se orgulhar da sua personalidade artística, reconhecida pelas suas virtudes e méritos próprios, no contexto da cultura do nosso tempo, no Brasil e no mundo todo. Brennand, sua obra e seu ateliê não devem passar sem o nosso reconhecimento.
 
Sobre o artista
 
Francisco de Paula Coimbra de Almeida Brennand, nasceu em Recife, Pernambuco, em 1927. É ceramista, escultor, desenhista, pintor, tapeceiro, ilustrador e gravador. Iniciou sua formação em 1942, aprendendo a modelar com Abelardo da Hora. Posteriormente, recebeu orientação em pintura de Álvaro Amorim e Murilo Lagreca. No fim dos anos 1940, passa a pintar principalmente naturezas-mortas, realizadas com grande simplificação formal.
 
 Em 1949, viajou para a França, incentivado pelo pintor Cicero Dias. Frequentou cursos com os pintores modernos franceses André Lhote e Fernand Léger, em 1951. Conheceu obras de Pablo Picasso e Joán Miró e descobriu na cerâmica seu principal meio de expressão. Entre 1958 a 1999, realizou diversos painéis e murais cerâmicos em várias cidades do Brasil e dos Estados Unidos. Em 1993, é realizada grande retrospectiva de sua produção na Staatliche Kunsthalle, em Berlim. É publicado o livro Brennand, pela editora Métron, com texto de Olívio Tavares de Araújo, em 1997. Em 1998, é realizada a retrospectiva Brennand: Esculturas 1974-1998, na Pinacoteca do Estado de São Paulo.
 
Desde os anos 1990, são lançados vários vídeos sobre sua obra, entre eles, Francisco Brennand: Oficina de Mitos, pela Rede Sesc/Senac de Televisão, em 2000. Em 2007 uma retrospectiva no Museu AfroBrasil, em São Paulo, homenageia o artista por conta de seus 80 anos. Em 2010 parte deste universo mágico do artista foi reconhecido na exposição “Brennand: uma introdução”, no Museu Universitário da UFRGS.
Brennand é detentor, entre outros, do prêmio Gabriela Mistral, concedido pela Organização dos Estados Americanos a intelectuais de seus países-membros. Igualmente possui um conjunto de esculturas no Parque dos Poetas, na cidade de Oeiras, em Portugal, onde se destaca um totem homenageando Manoel Bandeira.
 
Sua obra
 
Seu conjunto de criações em escultura, pinturas e cerâmicas, principalmente, destaca figuras da mitologia clássica, formas sensuais e homens e mulheres regidos pelo sofrimento. São características que se mantêm presentes na sua obra até hoje. "O tema essencial de Brennand foi e continua sendo o destino trágico do homem", conforme lembra o crítico de arte Olívio Tavares Araújo. O artista não apenas faz sucesso na linguagem escolhida, mas no que também consegue em sua obra sintetizar questões filosóficas, recebendo dele uma abordagem esteticamente provocativa e preciosa, reconhecida já em seu próprio tempo por grande parte do sistema de legitimação da arte.
 
Um artista que construiu uma civilização simbólica do mesmo barro que sua família alimentou gerações e ergueu o seu templo artístico onde ontem era um engenho, transformando-o em um lugar no mundo com acesso ao público que busca a fruição da arte. Não queremos sugerir uma competição, mas a obra de Brennand ombreia em relevância histórica com a de seu conterrâneo Ariano Suassuna, contemporâneo na sua geração, bem como de Erico Verissimo, e até mesmo de Simões Lopes Neto, a quem o alter ego do artista promove um encontro imaginário nas páginas do seu diário.
 
Sobre sua oficina
 
A grandiosidade da sua obra e do mundo onde habitam suas criaturas pode ser conhecida na sua Oficina da Várzea, inaugurada em 1971, a qual Brennand transformou a Cerâmica São João – que fabricava telhas e tijolos, erguida pelo pai em 1917 e abandonada desde 1945 – na Oficina Cerâmica Francisco Brennand, espaço monumental de pórticos, totens e esculturas transfiguradas, cada qual com significado particular: do mítico ao histórico, do humanístico ao heroico, a semiologia avulta-se em cada recanto. O artista detém uma obra de importância internacional pela sua originalidade, transcende aspectos regionais e nacionalistas, exalta valores humanos e universais, ultrapassa aspectos populares, religiosos e nordestinos, para alcançar o infinito caráter erudito. Templo absoluto da sua obra, seu ateliê é um lugar único no mundo. Tão exclusivo e repleto da áurea do artista que seu corpo e alma dificilmente se dissociam desta atmosfera fantástica.
 
Em 2016, O Santander Cultural realizou em Porto Alegre a exposição “Francisco Brennand - Senhor da Várzea, da Argila e do Fogo”, com curadoria de outro nome monumental da história arte brasileira, Emanoel Araujo, que faz jus a escala mítica do artista. Segundo este curador, “a exposição tenta induzir o espectador a uma viagem dionisíaca, para que então possa entender o mundo interior desse artista e sua obra, na esperança de que essa concepção museográfica seja eficiente para transmitir a quem visite a exposição, mais do que a criatividade do artista escultor, sentir nesse extraordinário espaço a mesma intensidade e energia com que ele impregna sua atmosfera de vida, de trabalho e que tão generosamente abre à visitação pública no Recife.

Este texto contou com a colaboração de Paula Ramos e André Venzon .
Edição: Rafael Varela/Ascom Sedac
Secretaria da Cultura