Nuno Ramos prepara exposição para inauguração da nova sede do MACRS
Como parte do processo de criação, artista visual está realizando pesquisa de campo em comunidade vizinha ao Museu
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O artista visual Nuno Ramos está nesta semana em Porto Alegre, onde realiza visitas e conversas na comunidade conhecida como Vila dos Papeleiros, como parte do processo de criação de uma instalação artística inédita. A obra integrará a primeira exposição do MACRS 4D, a nova sede do Museu de Arte Contemporânea do Rio Grande do Sul (MACRS), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). O MACRS 4D está em obras e tem abertura prevista para o primeiro semestre de 2025. Na terça-feira (26/11), Ramos reuniu-se com a secretária da Cultura, Beatriz Araujo (foto).
Com curadoria de André Severo, a exposição apresentará duas instalações de Ramos, que ocuparão todo o espaço da nova sede do MACRS, localizada no 4º Distrito da capital. A instalação em desenvolvimento, concebida especialmente para a exposição, evocará as narrativas atemporais da literatura clássica e dialogará diretamente com os eventos climáticos que, em maio, atingiram o Rio Grande do Sul.
Para isso, Ramos está fazendo uma imersão na comunidade popularmente chamada de Vila dos Papeleiros, que é vizinha ao Museu e foi afetada pela enchente. O objetivo é trazer à tona as possíveis conexões entre arte, vida, privilégio e vulnerabilidade.
Memória e natureza
A segunda instalação que integrará a exposição intitula-se “Ai, pareciam eternas (3 lamas)”. A obra mergulha o visitante em uma experiência sensorial e emocional que combina a memória pessoal do artista com um comentário sobre a fragilidade da existência humana diante da força devastadora da natureza.
Três réplicas em tamanho real das casas em que Ramos viveu ao longo de sua vida emergem como fantasmas de um passado que, embora familiar, está sendo devorado pelo tempo e pelos elementos. Cada casa, meticulosamente recriada, é submersa em uma piscina de lama, situada no interior da galeria. Essas piscinas, que diferem em cor – uma branca, outra preta e uma terceira marrom – evocam as camadas complexas de significado e simbolismo presentes na obra.
A escolha das cores e texturas das lamas não é aleatória: representam não apenas as variações na matéria, mas também as diferentes fases da vida e as emoções contrastantes que a acompanham. As casas, afundadas nesse ambiente, parecem lutar contra a aniquilação, simbolizando a persistência da memória e a inevitável transformação imposta pelo tempo e pela natureza.
Além de um testemunho íntimo da trajetória do artista, a instalação – já apresentada em 2012 na Galeria Celma Albuquerque, em Belo Horizonte – ganha uma dimensão coletiva e social ao ecoar a enchente de maio. Esse evento climático reflete-se nas imagens das casas submersas, que, apresentadas nesse contexto, se tornam metáforas para a vulnerabilidade da vida humana diante de catástrofes naturais. As casas submersas nas piscinas de lama tornam-se, assim, monumentos à memória e ao luto, não apenas pessoal, mas também coletivo.
Ao atravessar essa instalação, o visitante será convidado a refletir sobre a impermanência, o lar e o sentido de pertencimento em um mundo onde a natureza pode, em um instante, transformar o conhecido em desconhecido, o seguro em ameaçador.
O artista visual Nuno Ramos nasceu em 1960, em São Paulo, onde vive e trabalha. Formado em filosofia pela Universidade de São Paulo (USP), é pintor, desenhista, escultor, escritor, cineasta, cenógrafo e compositor. Começou a pintar em 1984, quando passou a fazer parte do grupo de artistas do ateliê Casa 7. Desde então, tem exposto regularmente no Brasil e no exterior. Participou da Bienal de Veneza de 1995, onde foi o artista representante do pavilhão brasileiro, e das Bienais Internacionais de São Paulo de 1985, 1989, 1994 e 2010. Em 2006, recebeu, pelo conjunto da obra, o Grant Award da Barnett and Annalee Newman Foundation. Mais informações sobre o artista podem ser conferidas em seu site.
MACRS 4D
Com essa exposição inaugural, no primeiro semestre do próximo ano, o MACRS 4D abrirá as portas ao público promovendo uma reflexão sobre a relação com o espaço, o tempo e a memória.
As obras do Museu estão em fase de instalação do sistema de climatização. Plataforma elevatória e luminárias já estão instaladas. Além disso, foram iniciadas as escavações no jardim para instalação do sistema de drenagem, bem como a construção das bases para os dois bondes da Carris que se encontram no pátio e que serão base para a realização de atividades educativas e formativas.