OSPA remonta a opereta “Os Bacharéis”, de João Simões Lopes Neto
A nova versão estreia na Casa da OSPA e depois a Orquestra viaja a Pelotas
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O escritor regionalista João Simões Lopes Neto, conhecido por “Contos Gauchescos”, é autor de uma obra que vai muito além. Parte desse catálogo menos conhecido engloba a sua produção teatral, focada em temas urbanos abordados de modo leve e com música original, cujo maior exemplo é a comédia-opereta “Os Bacharéis”. Quase 130 anos após sua estreia em Pelotas, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA), fundação vinculada à Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), realiza uma nova montagem do espetáculo que por muito tempo ficou esquecido. A nova versão estreia em 2 de setembro, na Casa da OSPA, e depois a Orquestra viaja a Pelotas para uma sessão no Auditório do Sicredi, em 8 de setembro, realizada em homenagem aos 150 anos da Associação Comercial de Pelotas. Os ingressos para a récita de Porto Alegre estão à venda em sympla.com.br/casadaospa. Em Pelotas, o ingresso pode ser trocado por 4 litros de leite na Associação Comercial de Pelotas.
Usando o pseudônimo Serafim Bemol, o pelotense Simões Lopes Neto dividiu a autoria de “Os Bacharéis” com o conterrâneo José Gomes Mendes, que assinava como Mouta Rara. Além de ser cunhado de Simões Lopes, Mendes foi um importante parceiro artístico em diversas produções teatrais. Já a parte musical de “Os Bacharéis” coube a Manuel Acosta y Oliveira, um músico negro e estrangeiro (sua origem não é conhecida), que, a despeito do preconceito vigente no Brasil pós-abolição, teve prolífica e elogiada atuação como violoncelista, regente e compositor em todo o país.

Após a estreia de sucesso, em 23 de junho de 1894, no Theatro Sete de Abril, em Pelotas, o espetáculo foi reencenado em algumas ocasiões, mas eventualmente caiu no esquecimento. Em 2005, um extenso trabalho de pesquisa possibilitou uma nova montagem. Cláudia Antunes pesquisou partituras e documentos originais, Márcio de Souza reconstituiu as partituras que tinham sido parcialmente perdidas, e a orquestração ficou a cargo de Rogério Constante. Élcio Rossini adaptou o texto e assinou a direção. As sessões, em Porto Alegre e Pelotas, causaram comoção. Naquela ocasião, Marcelo Ádams interpretou um dos protagonistas, Cincinatus. Agora, ele retorna como diretor cênico do projeto.
Ádams relembra a montagem de 2005: “Reencenar a peça é reapresentá-la ao público, que nos últimos 18 anos não teve acesso e agora novamente terá. Em 2005, foi diferente do que será agora, o elenco era composto de atores que cantavam, alguns dos maiores da época, como Margarida Peixoto, Julio Andrade, Sandra Dani. E agora será composto por grandes cantores líricos”, compara o diretor cênico. Em 2023, o elenco traz Flávio Leite, Sérgio Sisto, Henrique Cambraia, Felipe Bertol, Elisa Machado, Guilherme Roman, Roger Nunez, Cristine Guse, Carolina Braga, Ricardo Barpp, Oséas Duarte e Izabella Domingos.
“Os Bacharéis” é uma comédia-opereta, ou seja, uma forma de arte que conjuga o texto falado com o canto e deriva da ópera, que explora unicamente o canto. No Brasil, o gênero artístico estava muito em voga no final do século 19 e combinava ritmos brasileiros aos europeus. Nas operetas, o texto descontraído frequentemente recorre ao humor como ferramenta de crítica social. Em “Os Bacharéis”, o alvo dos autores foi a hipocrisia e os costumes conservadores da sociedade pelotense, ainda que o texto não esteja situado em um local ou um tempo específicos.
Embora o enredo seja construído a partir de uma clássica história de amor, com direito a vilão, os reais protagonistas são três irmãos, os bacharéis do título. Um deles, Cincinatus, impede o casamento entre os noivos Pombinho e Caricina alegando que os dois seriam parentes e, portanto, não poderiam se casar. Desolado, Pombinho deixa a cidade e só volta anos depois, com diploma de bacharel. O retorno abala os planos de Cincinatus, que tentava conquistar Caricina. Enquanto a plateia assiste às ações inescrupulosas dos personagens, a hipocrisia dos costumes conservadores é revelada, provocando efeitos cômicos.
Segundo Ádams, a obra revela uma faceta divertida de Simões Lopes Neto: “Sempre pensamos na importância do Simões em relação às obras mais rurais, mostrando o típico gaúcho e as lendas do interior, como a Salamanca do Jarau. Mas as comédias são peças urbanas, mostram a versatilidade do autor, a sua outra face.”
Programa de Gratuidade da OSPA
Escolas públicas, ONGs, organizações sociais e educacionais podem solicitar entrada gratuita à comédia-opereta “Os Bacharéis” em Porto Alegre e Pelotas. Buscando democratizar o acesso à música de concerto, a OSPA disponibiliza 20% dos ingressos de todos os seus espetáculos para esse público, dentro do programa de gratuidade. Devido ao número limitado de cortesias, cada instituição deve fazer o pedido para o e-mail atendimento.ospa@gmail.com. O pedido deve conter o CNPJ da instituição, o número de pessoas que irão ao concerto e o nome do responsável pelo grupo. Após o envio, é necessário aguardar a confirmação do benefício. Os pedidos são atendidos por ordem de envio.
Serviço
“Os Bacharéis”
Data: 02/09
Horário: 17h
Local: Casa da OSPA (Caff – Av. Borges de Medeiros, 1.501, Porto Alegre)
Serviço Pelotas:
Data: 08/09
Horário: 20h30
Local: Auditório do Sicredi (Av. Dom Joaquim, 1087).
*Ingresso solidário: mediante a doação de 4 litros de leite