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Necessidade de novos caminhos é unanimidade entre painelistas do seminário Sentidos da Democracia

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Os sentidos da democracia em debate- foto: Caroline Biccochi

Com participação do governador Tarso Genro, o secretário de Estado da Cultura, Assis Brasil,  coordenou o painel sobre Os Sentidos da Democracia, no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, nesta sexta-feira (27). O debate  foi realizado em parceria com a Secretaria de Planejamento Gestão e Participação Cidadã e a coordenadoria do Fórum Social Temático.

A mesa de painelistas foi composta também  pelo  presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adão Villaverde (PT), o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos; o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho; o arquiteto, político e ativista social Chico Whitaker; o diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen e o jornalista Ignácio Ramonet, também do Le Monde Diplomatique.

A visão brasileira

O governador destacou a importância da realização do evento e a qualidade dos painelistas. "Extraordinários e de muita capacidade intelectual. Esta troca de conhecimentos nos engrandece", afirmou. O sentido da democracia e a necessidade de uma reforma política foram os pontos principais do discurso de Tarso Genro. Para o chefe do Executivo gaúcho, ao contrário do totalitarismo, a democracia não tem sentido originário nem obrigatório, portanto, está em aberto para que cada nação e cada organização formule suas próprias características. Para chegar ao exemplo do Brasil, ele definiu três exemplos de modelos democráticos: o grego, o norte-americano e o latino-americano. “No Brasil temos a possibilidade da representação política e da democracia direta. Os partidos e a sociedade preenchem esse significado; mas, esse modelo está esgotado. É preciso fazer uma profunda reforma política que consiga não só incorporar esses novos atores, como possibilitar a realização de uma luta política aberta. É preciso radicalizar a democracia”, ponderou.

O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, destacou que o debate promovido no Painel será levado para o Rio +20. "O caminho que vejo para esta construção da democracia, é abrirmos um intenso diálogo entre o Governo e a sociedade", afirmou. Em seu discurso o  ministro Gilberto Carvalho falou sobre as necessidades locais, do cenário brasileiro e dos processos de mudanças no perfil da sociedade e dos atores políticos, que fazem com que se façam grandes esforços, da parte dos gestores, para que o real valor da democracia não seja esquecido. “Se de um lado estamos proporcionando uma democratização da economia, é também preciso que avancemos para uma democracia na área social e política, pois atualmente ocorre uma emergência de novos sujeitos, uma juventude que busca cada vez mais sentido para suas lutas. Nós que somos governo, precisamos ter a humildade de aprender a vivenciar essa nova democracia”, disse.

Adão Villaverde também analisou o papel das representações e forma de operacional dos partidos. “Essa forma clássica que os partidos se organizam talvez esteja superada. Sabemos que a crise da democracia é a crise do estado moderno e do conjunto das representações desse estado. Considero que a capacidade do controle e da participação pode ser a maneira de enfrentar a ausência do sentido original”, considerou.

Geração dos indignados

Muitos foram os problemas apontados, assim como suas possíveis soluções, mas ao fim do debate os participantes consideraram que o modelo atual de democracia foi derrotado por diversos fatores, produzidos especialmente pelo continente que mais disseminou essa bandeira, a Europa. “A crise que vive o continente europeu se dá principalmente porque os governantes eleitos pelo voto sucumbiram a uma forma nova de autoritarismo, refém dos grandes banqueiros e que exclui a participação dos cidadãos”, disse Ramonet.

Também foi consensual a constatação de que, além de eleger seus representantes, a população precisa ter a oportunidade de dizer o que pensa, de controlar, de reagir, e, segundo Whitaker “a sociedade não se satisfaz sendo apenas representada, ela quer atuar; e este Fórum está mostrando essa cultura mais exigente, da horizontalidade, da geração dos indignados”, concluiu

A crise e o papel do Brasil

No discurso mais esperado e ponto alto da atividade, o professor Boaventura dos Santos fez questão de enfatizar a afirmação de que a democracia está em crise nos tempos atuais e falou do papel do Brasil e da América Latina nesse cenário. “Pensávamos que a democracia nunca entraria em crise, portanto devemos nos orgulhar de estarmos enxergando isso. É muito importante que a América Latina hoje tenha a sensação de poder resolver problemas que a Europa não poderá resolver. Os riscos estão aí, o neoliberalismo é global”, frisou. Para ele, o neoliberalismo conseguiu esvaziar a democracia da sua vertente original. “Por esse motivo, hoje só temos democracias de intensidades baixas e muito baixas”, criticou. Ainda nessa linha, o sociólogo se posicionou de forma crítica à organização dos atuais sistemas de participação. “A democracia participativa formou-se de costas para a população”, pontuou.

Como solução para essa crise, ele considera que a defesa da democracia deve ser cotidiana. “Não há outra saída se não a participação, a mobilização, a transparência, a reforma política, a própria abertura dos partidos e dos movimentos e a democratização da mídia." Boaventura considera que o novo ativismo político do século 21 não pode esquecer que a maioria dos cidadãos não faz parte de partidos ou organizações, por isso, diz ser essencial pensar uma nova forma de conduzir a democracia.

Nem mesmo a crítica ao modelo político adotado pela esquerda ficou de fora do colóquio de Boaventura. De acordo com o professor, a esquerda golpeou quem nela acreditou, pois, segundo ele, deixou de pensar "A grande maldição da esquerda no século 20 foi transformar militantes em funcionários”, observou.

Secretário Assis Brasil, governador Tarso Genro e Boaventura Santos- Foto: Caroline Biccochi
Secretário Assis Brasil, governador Tarso Genro e Boaventura Santos- Foto: Caroline Biccochi

Rio +20

O Fórum Social Temático tem com objetivo preparar uma agenda de ações para o Rio + 20, que será realizado entre os dias 20 e 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro. O evento defende a criação de dez metas de desenvolvimento sustentável, que incluirão normas de consumo, produção, proteção de oceanos, segurança alimentar, energia limpa e redução de desastres naturais.

Texto: Regina Farina /Mariela Carneiro

Edição: Asscom Sedac

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