Necessidade de novos caminhos é unanimidade entre painelistas do seminário Sentidos da Democracia
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Com participação do governador Tarso Genro, o secretário de Estado da Cultura, Assis Brasil, coordenou o painel sobre Os Sentidos da Democracia, no Teatro Dante Barone, da Assembleia Legislativa, nesta sexta-feira (27). O debate foi realizado em parceria com a Secretaria de Planejamento Gestão e Participação Cidadã e a coordenadoria do Fórum Social Temático.
A mesa de painelistas foi composta também pelo presidente da Assembleia Legislativa, deputado Adão Villaverde (PT), o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos; o ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho; o arquiteto, político e ativista social Chico Whitaker; o diretor do jornal francês Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen e o jornalista Ignácio Ramonet, também do Le Monde Diplomatique.
A visão brasileira
O governador destacou a importância da realização do evento e a qualidade dos painelistas. "Extraordinários e de muita capacidade intelectual. Esta troca de conhecimentos nos engrandece", afirmou. O sentido da democracia e a necessidade de uma reforma política foram os pontos principais do discurso de Tarso Genro. Para o chefe do Executivo gaúcho, ao contrário do totalitarismo, a democracia não tem sentido originário nem obrigatório, portanto, está em aberto para que cada nação e cada organização formule suas próprias características. Para chegar ao exemplo do Brasil, ele definiu três exemplos de modelos democráticos: o grego, o norte-americano e o latino-americano. “No Brasil temos a possibilidade da representação política e da democracia direta. Os partidos e a sociedade preenchem esse significado; mas, esse modelo está esgotado. É preciso fazer uma profunda reforma política que consiga não só incorporar esses novos atores, como possibilitar a realização de uma luta política aberta. É preciso radicalizar a democracia”, ponderou.
O ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, destacou que o debate promovido no Painel será levado para o Rio +20. "O caminho que vejo para esta construção da democracia, é abrirmos um intenso diálogo entre o Governo e a sociedade", afirmou. Em seu discurso o ministro Gilberto Carvalho falou sobre as necessidades locais, do cenário brasileiro e dos processos de mudanças no perfil da sociedade e dos atores políticos, que fazem com que se façam grandes esforços, da parte dos gestores, para que o real valor da democracia não seja esquecido. “Se de um lado estamos proporcionando uma democratização da economia, é também preciso que avancemos para uma democracia na área social e política, pois atualmente ocorre uma emergência de novos sujeitos, uma juventude que busca cada vez mais sentido para suas lutas. Nós que somos governo, precisamos ter a humildade de aprender a vivenciar essa nova democracia”, disse.
Adão Villaverde também analisou o papel das representações e forma de operacional dos partidos. “Essa forma clássica que os partidos se organizam talvez esteja superada. Sabemos que a crise da democracia é a crise do estado moderno e do conjunto das representações desse estado. Considero que a capacidade do controle e da participação pode ser a maneira de enfrentar a ausência do sentido original”, considerou.
Geração dos indignados
Muitos foram os problemas apontados, assim como suas possíveis soluções, mas ao fim do debate os participantes consideraram que o modelo atual de democracia foi derrotado por diversos fatores, produzidos especialmente pelo continente que mais disseminou essa bandeira, a Europa. “A crise que vive o continente europeu se dá principalmente porque os governantes eleitos pelo voto sucumbiram a uma forma nova de autoritarismo, refém dos grandes banqueiros e que exclui a participação dos cidadãos”, disse Ramonet.
Também foi consensual a constatação de que, além de eleger seus representantes, a população precisa ter a oportunidade de dizer o que pensa, de controlar, de reagir, e, segundo Whitaker “a sociedade não se satisfaz sendo apenas representada, ela quer atuar; e este Fórum está mostrando essa cultura mais exigente, da horizontalidade, da geração dos indignados”, concluiu
A crise e o papel do Brasil
No discurso mais esperado e ponto alto da atividade, o professor Boaventura dos Santos fez questão de enfatizar a afirmação de que a democracia está em crise nos tempos atuais e falou do papel do Brasil e da América Latina nesse cenário. “Pensávamos que a democracia nunca entraria em crise, portanto devemos nos orgulhar de estarmos enxergando isso. É muito importante que a América Latina hoje tenha a sensação de poder resolver problemas que a Europa não poderá resolver. Os riscos estão aí, o neoliberalismo é global”, frisou. Para ele, o neoliberalismo conseguiu esvaziar a democracia da sua vertente original. “Por esse motivo, hoje só temos democracias de intensidades baixas e muito baixas”, criticou. Ainda nessa linha, o sociólogo se posicionou de forma crítica à organização dos atuais sistemas de participação. “A democracia participativa formou-se de costas para a população”, pontuou.
Como solução para essa crise, ele considera que a defesa da democracia deve ser cotidiana. “Não há outra saída se não a participação, a mobilização, a transparência, a reforma política, a própria abertura dos partidos e dos movimentos e a democratização da mídia." Boaventura considera que o novo ativismo político do século 21 não pode esquecer que a maioria dos cidadãos não faz parte de partidos ou organizações, por isso, diz ser essencial pensar uma nova forma de conduzir a democracia.
Nem mesmo a crítica ao modelo político adotado pela esquerda ficou de fora do colóquio de Boaventura. De acordo com o professor, a esquerda golpeou quem nela acreditou, pois, segundo ele, deixou de pensar "A grande maldição da esquerda no século 20 foi transformar militantes em funcionários”, observou.
Rio +20
O Fórum Social Temático tem com objetivo preparar uma agenda de ações para o Rio + 20, que será realizado entre os dias 20 e 22 de junho de 2012, no Rio de Janeiro. O evento defende a criação de dez metas de desenvolvimento sustentável, que incluirão normas de consumo, produção, proteção de oceanos, segurança alimentar, energia limpa e redução de desastres naturais.
Texto: Regina Farina /Mariela Carneiro
Edição: Asscom Sedac