Heitor dos Prazeres - Frevo
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O músico, poeta e pintor Heitor dos Prazeres nasceu no dia 23 de setembro de 1898, uma década após a abolição da escravatura. Filho do marceneiro e clarinetista da banda da Guarda Nacional, Eduardo Alexandre dos Prazeres, e da costureira Celestina Gonçalves Martins.
Ao completar sete anos de idade, foi surpreendido com a morte de seu pai, que naquela época já começava a lhe ensinar os primeiros passos na profissão de marceneiro. Dona Celestina consegue matricular o menino numa escola profissionalizante, onde cursava o primário e aprendia a profissão de marceneiro. Entusiasmada com a vocação musical do filho, dá a ele o primeiro cavaquinho. Heitor desenvolve-se tendo como modelo o tio, cujo modo de compor ele admirava.
Engraxate, jornaleiro, ajudante de marceneiro e lustrador de móveis. Aos 12 anos, é conhecido como mano Heitor do Cavaquinho, que na época já participava das reuniões nas casas das tias, onde se cultuavam ritmos afros.
Nos carnavais, Heitor costumava sair fantasiado de baiana, levando nos ombros um pano da costa em cores vivas, cantando e tocando seu cavaquinho, arrastando foliões que dançavam animadamente segurando as extremidades do pano como uma bandeira, fato esse que inspirou Heitor dos Prazeres a criar um estandarte para outros carnavais.
Na década de 20, passou a ser conhecido como Mano Heitor do Estácio, devido ao fato de andar sempre acompanhado de bambas de sua amizade como os sambistas e compositores João da Baiana, Caninha, Ismael Silva, Alcebíades Barcelos (Bide), Marçal, ajudando a fundar e a organizar vários agrupamentos de samba no Rio Comprido, no Estácio e nas imediações. Em 1925 compôs Deixaste meu lar e Estás farto de minha vida, gravada por Francisco Alves.
Em 1931, casou-se com Dona Glória, com quem viveu até 1936, nascendo como fruto desta união três filhas: Ivete, Iriete e Ionete Maria.
A prefeitura do Distrito Federal, em 1943, promoveu o Primeiro Concurso Oficial de Música para o Carnaval, do qual Heitor dos Prazeres foi vencedor com o samba Mulher de malandro, interpretado por Francisco Alves. Nessa época Heitor já trabalhava nas primeiras emissoras de rádio do Rio de Janeiro, fazendo apresentações com seu cavaquinho, acompanhado de vozes femininas, ritmistas e passistas, grupo este que se denominava Heitor dos Prazeres e Sua Gente.
Em 1933, compôs a célebre Canção do jornaleiro, na qual descrevia a vida dos meninos que andavam pelas ruas da cidade vendendo jornais, numa lembrança de sua infância. A música deu origem à campanha em prol da construção da Casa do Pequeno Jornaleiro.
Com a morte da esposa em 1936, da paixão e tristeza de Heitor dos Prazeres surgiu uma nova maneira de se expressar artisticamente. O compositor descobriu o pintor ao ilustrar, através de um desenho colorido, sua mais nova criação musical: O pierrot apaixonado.
Carlos Drummond de Andrade, certa noite, levou um poema dedicado ao amigo para que fosse transformado em música. O compositor não conseguiu musicá-lo, porém mais tarde o pintor se inspiraria a criar um quadro com o nome do poema que Drummond lhe dedicara: O Homem e seu Carnaval (1934). Este ilustre estudante e um outro – não menos ilustre – estudante de jornalismo, além de desenhista, Carlos Cavalcante, foram, juntamente com o pintor Augusto Rodrigues, os incentivadores e lançadores do artista plástico Heitor dos Prazeres.
Em 1937 começou a se projetar como pintor, participando de exposições, sempre incentivado pelos amigos. Começava assim a dupla atividade de sambista e pintor.
No final da década de 30, além de trabalhar em emissora de rádio, Heitor fazia parte do elenco do Cassino da Urca, onde tocava, cantava e dançava em companhia de Grande Otelo e Josephine Backer, daí vindo a conhecer o cineasta Orson Welles, que o contratou como arregimentador de figurantes para um filme sobre a cultura afro-brasileira, mais precisamente o samba e o carnaval.
Novo casamento acontece nessa época, com Nativa Paiva, uma de suas pastoras, que lhe deu dois filhos: Idrolete e Heitorzinho dos Prazeres.
Dos Prazeres cultivava o grande prazer de estar sempre rodeado de belas mulheres, tratadas carinhosamente de “minhas cabrochas”, geralmente mais de dez moças que ele treinava para dançar e cantar com seus músicos e ritmistas e que o acompanhavam em suas excursões.
Numa dessas apresentações em São Paulo, onde Heitor fazia muito sucesso nos programas de rádio, em teatros, circos e festas populares de rua, conheceu uma bela jovem, com nome de flor, que lhe deu a filha Dirce e o inspirou na marcha-rancho Linda Rosa. Seus amores eram suas musas, como nas músicas Deixa a malandragem, Gosto que me enrosco e Mulher de malandro, inspiradas em tia Carlinda, com quem teve um romance nos idos de 1927 e tiveram uma filha – Laura, a mais velha.
Em 1943, Heitor dos Prazeres passa a integrar o elenco da rádio Nacional do Rio de Janeiro e a participar de exposições de pinturas pelo Brasil e o exterior. Uma delas foi a exposição da RAF em benefício das vítimas da 2ª Guerra Mundial, na qual apresentou sua tela Festa de São João. O quadro do mestre Heitor foi adquirido pela então princesa Elizabeth, em Londres. Com isso a fama do pintor cresce e no mesmo ano é convidado a expor individualmente no diretório acadêmico da Escola de Belas Artes, em Belo Horizonte.
Incentivado a participar da primeira Bienal de Arte Moderna, em São Paulo, que reuniu, em 1951, artistas de várias expressões do Brasil e do mundo, teve uma grande alegria na sua carreira com a contemplação do terceiro prêmio para artistas nacionais através do quadro intitulado Moenda, que até hoje faz parte do acervo do museu.
Heitor dos Prazeres morreu no dia 04 de outubro de 1966, no Rio de Janeiro.