A historiografia que produziu narrativas sobre a história da imigração alemã no Brasil, até bem pouco tempo, ressaltou, sobretudo, a participação de protagonistas masculinos no espaço público. O imigrante foi louvado como o colono pioneiro, a ele foi atribuída a responsabilidade pelos rumos da vida familiar, o empreendedorismo nos negócios, o surgimento de instituições educacionais e eclesiais, bem como o êxito da permanência de comunidades religiosas.

Pouco se registrou, no entanto, sobre a participação de mulheres nos diferentes espaços sociais e comunitários, embora seu trabalho tenha sido essencial para a sobrevivência da família, especialmente no meio rural, e sua atuação como “mães da nação”, no sentido biológico e cultural, tenha se revelado primordial na manutenção desse grupo étnico.

No marco do bicentenário da imigração alemã no Brasil, dos 200 anos de presença luterana no país e dos 125 anos da Ordem Auxiliadora de Senhoras Evangélicas – IECLB, apresento uma narrativa sobre as mulheres teuto-brasileiras evangélicas, no âmbito do protestantismo clássico, no período de 1824 a 1945, considerando o cotidiano como lugar vivencial histórico e o privado e o público como espaços interativos. Destaco a pluralidade de perfis e de vivências de mulheres desse grupo étnico-confessional e de suas descendentes, sua participação econômica na família, seu poder de decisão, ainda que dentro de uma lógica de submissão, sua capacidade de transformar a casa em um lar, seu empenho na educação de filhas e filhos, suas iniciativas no espaço público, quando isso foi possível, movidas pela fé, bem como a teologia luterana que moldava sua identidade.

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