A Capital vista de um ângulo diferente
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O ônibus do city tour Centro Histórico da Linha Turismo sai de seu ponto de partida, na Travessa do Carmo, em frente à Secretaria Municipal de Turismo, dá uma volta no quarteirão e vai em direção ao Parque da Redenção. Uma gravação oriunda do sistema de áudio conta a história e apresenta curiosidades sobre os locais tradicionais por onde o ônibus passa: Parque da Redenção, avenida Osvaldo Aranha, bairro Bom Fim, Hospital das Clínicas Planetário, Parque Moinhos de Ventos... Pedestres acenam e fazem barulho da calçada ao ver passar o ônibus. Pouco mais de 20 pessoas acomodadas no andar superior do veículo aproveitam o dia ensolarado para tirar muitas fotos, enquanto suas cabeças quase raspam nos galhos das árvores mais altas.
O city tour Linha Turismo foi criado em caráter provisório para atender ao público do Fórum Social Mundial em janeiro de 2003. Com o sucesso da experiência, a prefeitura decidiu manter o serviço. “Não existia essa linha de produção no Brasil. Tínhamos o chassis de um lado e a carroceria do outro, de uma forma que o modelo original é único, foi montado fora da linha de produção”, lembra o secretário municipal de Turismo, Luiz Fernando Moraes.
O ônibus original foi o único veículo utilizado até 2012, quando foram adquiridos dois novos carros. “Percebíamos a existência de uma demanda represada”, conta Moraes. “Um ônibus nos limitava muito. Era um passeio que não permitia paradas, um circular. Saía daqui, dava voltas e voltava pra cá. Quando têm paradas, e as pessoas descem em pontos da cidade, elas têm de poder embarcar dentro de um tempo razoável”, acrescenta.
Nesse primeiro esquema, havia, como agora, dois roteiros, um pelo Centro Histórico e outro pela zona Sul. O primeiro tinha duração de 1h30min, o segundo 1h40min. “Se houvesse pontos de parada com um ônibus a pessoa ia ter de esperar 1h30min, 1h40min para embarcar de novo”, diz Moraes. Com os dois novos veículos foi possível permitir as paradas, aumentar a oferta de assentos e de frequência de passagem dos ônibus. Atualmente, os dois ônibus do circuito Centro Histórico se alternam em saídas de hora em hora, entre 9h e 16h, e fazem três paradas entre terça e sexta-feira (Parcão, Mercado e Museu Iberê Camargo) e quatro paradas em finais de semana e feriados (Parque da Redenção). O roteiro zona Sul tem início às 15h entre terça e domingo. Sábados, domingos e feriados há mais um passeio extra, com saída às 10h30min.
Novos ônibus aperfeiçoaram o serviço oferecido
Além de melhorar a operação, a chegada dos novos ônibus para a Linha Turismo, em 2012, também permitiu outras mudanças. Como agora o roteiro Centro Histórico tem paradas, o serviço conta também com pontos de vendas próximos a todas as paradas. “Isso nos complicou um pouco a operação, porque a gente deixa de ter o controle sobre embarques e desembarques”, diz o secretário Luiz Fernando Moraes.
Segundo ele, nas primeiras semanas de operação houve problemas porque o ônibus já chegava cheio à estação do Mercado Municipal, onde uma fila de pessoas aguardava. Para resolver a situação, foi reduzida a cota diária para venda nesses outros pontos. “Temos de ter mais oferta de assentos do que capacidade de vender”, diz Moraes. “Mesmo que tivéssemos controle online, o cara que comprou lá no mercado pode não embarcar na primeira volta, pode descer no Parcão, pode não descer no Parcão. Mas é assim no mundo inteiro”, constata.
Nos novos veículos, a narração dos passeios, que antes era feita presencialmente por guias de turismo, agora fica a cargo de um sistema de áudio com gravações que falam sobre os locais por onde passa o ônibus e que são disparadas quando o ônibus passar por estes locais.
Além disso, com mais carros, o ônibus antigo pôde tomar um “banho de loja” em 2013, nas palavras do secretário. “Ele parece novo”, acrescenta Moraes. Esse carro agora é usado no city tour zona Sul, que continua sendo feito sem paradas. As principais atrações desse roteiro são as paisagens naturais da cidade. Os destaques são a praia de Ipanema, algumas propriedades da rota turística Caminhos Rurais de Porto Alegre e o Santuário Nossa Senhora Mãe de Deus, que, do alto do Morro da Pedra Redonda, permite uma bela visão da cidade, do rio Guaíba e até mesmo de cidades vizinhas, como Viamão.
O passeio para a zona Sul é acompanhado por um guia turístico. Animado, Roger Pires dos Santos fala sobre os locais e permite-se, inclusive, algumas brincadeiras – comparando, por exemplo, o Centro Administrativo do Estado a uma grande pista de skate.
Calor do verão atrai mais visitantes, mas frio não assusta
O city tour Linha Turismo tem uma sazonalidade que chega a surpreender o secretário municipal de Turismo, Luiz Fernando Moraes. “No verão, incrivelmente, quando faz 40 graus, as pessoas vão lá em cima, tomando aquele sol na cabeça. Enche mais que em outros momentos. É alta temporada para nós. Nós recomendamos boné e protetor, porque é pesado”, alerta. Por outro lado, o inverno também traz bastante movimento. “Zero grau e as pessoas vão lá em cima, felizes da vida. Isso faz parte da aventura, da experiência: o ‘friozão’. Vai lá em cima bate uma adrenalina”, teoriza.
Mas a adrenalina bate mesmo quando tem fotógrafo e cinegrafista no veículo. “É uma tragédia”, reclama Moraes, “porque os caras querem ir de pé e de costas ainda!”, completa. De acordo com ele, o risco de perder a cabeça é real e por isso não é permitido ficar em pé. Galhos de árvores e fios de luz e telefonia passam a meio metro das cabeças dos passageiros. Os veículos são equipados com câmeras para que o motorista monitore se há pessoas em pé. A passarela do Parcão, muito baixa, impede que se possa colocar uma cobertura retrátil nos ônibus. “O ônibus tem quatro metros, precisaria mais 10 cm para poder colocar o trilho. Optamos por tirar, fazer o quê?”, diz o secretário, que recusa a ideia de tirar o Parcão do roteiro. Com tudo isso, segundo informa o gerente da linha, Miguel Paiva, nunca houve nenhum acidente.
Em outubro de 2013, a Linha Turismo superou os 500 mil passageiros transportados desde o início das operações. No ano passado, foram 72.012. A secretaria não sabe informar quantos desses são turistas e quantos são locais, mas o fato é que os locais contribuem bastante para esse número. Uma boa parte, como destaca Moraes, são oriundos de escolas e entidades assistenciais.
“Não é só uma ação assistencialista, tem também um objetivo técnico, que é sensibilizar a cidade para o turismo. Levamos a garotada da rede municipal para um workshop onde eles aprendem o conteúdo de forma lúdica e termina no passeio do ônibus. Isso para que eles compreendam o que é turismo, a importância sobre a cidade, questões estéticas, históricas, patrimônio histórico e a própria economia do turismo”, diz o secretario municipal.
Reforço para a Copa
Com a previsão de um grande fluxo de turistas durante os jogos da Copa do Mundo, a secretaria adquiriu mais um veículo para o city tour Linha Turismo, que deve ser entregue neste mês. Além do novo veículo, que terá capacidade para 53 pessoas na parte superior e 27 na inferior, os roteiros deverão ser alterados durante o evento. Como a área do entorno do Beira-Rio terá uma série de mudanças no trânsito, a secretaria estuda suspender o roteiro para a zona Sul e excluir o Museu Iberê Camargo do roteiro Centro Histórico.
Com trajeto menor e maior frequência de passagem dos ônibus, deve haver também uma maior oferta de assentos. O secretário municipal de Turismo, Luiz Fernando Moraes, diz que existe a possibilidade de alugar frota auxiliar para o período. “Esse ônibus não é muito comum, não tem em muitas cidades. Estamos mapeando”, afirma.
Segundo Moraes, a aquisição do novo ônibus (que tem custo entre
R$ 700 mil e R$ 800 mil), assim como toda a operação da Linha Turismo, é possível graças a uma parceria que existe entre a Secretaria Municipal de Turismo, a Carris e a ABIH-RS (Associação Brasileira da Indústria de Hotéis).
“Quem compra é a Carris”, explica Moraes. “Se um dia acabar o convênio, os ônibus serão transferidos para a prefeitura. Compramos pela Carris pela facilidade, pela expertise deles, faz parte da rotina deles comprar ônibus, então eles têm a técnica, dominam esse negócio. Essa é a razão do convênio também para toda parte de manutenção, de motorista, de cobrador”, acrescenta.
Ainda segundo o secretário, toda a arrecadação do Linha Turismo vai para a Carris. Depois de pagas as despesas, o saldo é dividido em três partes. Uma parte é dedicada ao fundo de reaparelhamento da Linha Turismo – usado para adquirir o novo ônibus e os dois ônibus comprados em 2012. Outra parte fica para a própria Carris e o restante é aplicado no Funturismo, fundo de promoção do turismo do governo municipal. A ABIH atua dando suporte administrativo e de pessoal para a Linha Turismo.
Na operação, trabalham sete motoristas selecionados pela Carris, com treinamento específico para a função. São três efetivos, três reservas e um folguista. Para os motoristas, a função é quase um prêmio. “É bem mais tranquilo”, revela o motorista Paulo Renato Matias. “São quatro viagens em nove horas de trabalho e 90% dos turistas são tranquilos”, acrescenta. Ele também lista a possibilidade de contemplar diariamente a orla do Guaíba como uma vantagem de seu trabalho na Linha Turismo.
Para continuar com as melhorias, Moraes também conta com a ajuda do governo federal. Ele revela que a prefeitura enviou ao Ministério do Turismo um projeto para informatizar todo o sistema e a bilhetagem, para permitir a compra direto com o cartão de crédito. “Há algum tempo não vendíamos nem com cartão de crédito nem débito, era só dinheiro. Incorporamos, de um tempo para cá, crédito e débito normal”, conta. Ainda segundo ele, está sendo implantado um sistema de monitoramento por GPS dos ônibus. “Vamos poder monitorar onde cada um anda. Não nós apenas, mas o próprio turista, para saber se o ônibus está perto, se está longe, se está chegando”, diz.
Rotas e preços
O city tour Linha Turismo funciona de terça a domingo. Em dias de semana, o ingresso custa R$ 18,00 e em finais de semana, R$ 20,00. Na rota Centro Histórico as atrações são a história, a arquitetura e a cultura da região central, onde a cidade nasceu. As saídas são de hora em hora entre 9h e 16h, da frente da Secretaria de Turismo, na Travessa do Carmo, 84, Cidade Baixa.
A rota zona Sul parte do mesmo lugar e vai até o Santuário Mãe de Deus, sem paradas. Entre terça e sexta-feira, as saídas são às 15h e, em sábados, domingos e feriados, há uma saída extra às 10h30min.
Fonte: Jornal do Comércio