Ospa interpreta Piazzolla com solos de acordeon e violão no próximo sábado
Repertório inclui a última obra composta por Villa-Lobos, nunca tocada pela Ospa
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Em 2021, ano em que Astor Piazzolla celebraria 100 anos, a Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (Ospa), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac), tem executado suas grandes obras. No próximo sábado, dia 9 de outubro, será a vez de “Concerto para Bandoneon, Violão e Orquestra de Cordas”, uma peça única em que o violão e o acordeon vão brilhar com Thiago Colombo e Matheus Kleber como solistas. O concerto terá também duas preciosidades de Villa-Lobos: “Ouverture de L'Homme Tel” e “Suite nº 2 para Orquestra de Câmara”, que será executada pela Ospa pela primeira vez. A regência é do maestro do Coro Sinfônico da Ospa, Manfredo Schmiedt.
A Casa da Ospa está operando com público máximo de 400 pessoas, um pouco menos de 40% da lotação, e todos os concertos têm transmissão gratuita ao vivo pelo canal da Ospa no YouTube. Para assistir presencialmente, o ingresso é 1kg de alimento não perecível.
“Concerto para Bandoneon, Violão e Orquestra de Cordas” traz a essência do tango e as harmonias marcantes de Astor Piazzolla (1921-1992) que tanto agradam ao público da Ospa. A peça foi composta para o Festival Internacional de Violão de Liège, na Bélgica, onde estreou em 1985 com a Orquestra Filarmónica de Liège conduzida por Leo Brouwer, Piazzolla no bandoneon e Cacho Tirao no violão. A Ospa executará uma versão diferente na qual Matheus Kleber toca o acordeon (a popular gaita ou sanfona) no lugar do tradicional bandoneon. “Esses instrumentos são primos. Apesar de semelhantes, têm características diferentes, então a música fica com outro timbre. O Piazzolla traz a atmosfera noturna, dos cabarés de tango, para a sala de concerto. Por mais que eu toque Piazzolla há muitos anos, sempre toco com um sotaque mais brasileiro”, comenta Matheus Kleber.
Na sequência, o concerto dá espaço a outro gênio latino-americano: Heitor Villa-Lobos (1887-1959). “Ouverture de L’Homme Tel” é um excerto da “Suíte Sugestiva”, de 1929, obra pouco conhecida criada pelo compositor brasileiro em memória do cinema mudo, quando Villa-Lobos tocava em conjuntos que acompanhavam os filmes. Como o nome indica, a obra é uma releitura da famosa “Abertura de Guilherme Tell”, de Rossini. “É uma peça de vanguarda, muito rica, com humor e acordes inesperados. Mostra a versatilidade e a capacidade do Villa-Lobos de absorver as tendências europeias daquela época”, observa o regente Manfredo Schmiedt.
A orquestra encerra a apresentação com a sua primeira execução de “Suite nº 2 para Orquestra de Câmara”, escrita no último ano de vida de Villa-Lobos, 1959. É uma obra grandiosa e elegante composta por cinco partes curtas com sonoridades que lembram as Bachianas Brasileiras. Manfredo explica que, apesar do título, ela usa a estrutura de uma orquestra tradicional. “É a última obra que ele compôs. Começa com um lamento tocado por violoncelos, em seguida parece que os metais tocam uma marcha fúnebre. Para mim, parece uma despedida, como se Villa-Lobos estivesse sentindo que a sua vida estava terminando”, opina Manfredo, “aliás, Villa-lobos foi violoncelista no início da vida”, acrescenta.
A suíte se torna mais animada nos movimentos seguintes, com momentos lúdicos. Mas o movimento final, batizado de “Macumba”, tem uma marcação rítmica forte oriunda da pesquisa de Villa-Lobos sobre religiões afro-brasileiras. “Tem um pulso constante que dá a sensação de entrar em transe. Acho uma obra magistral que ainda não é muito conhecida do público”, pontua Manfredo, que chegou a gravar a suíte em 2017 junto da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (UCS), da qual foi regente titular e diretor artístico.
Visita segura
Em acordo com as orientações do governo do Estado do RS referentes à pandemia da Covid-19, o concerto seguirá os seguintes protocolos de segurança: ocupação reduzida da Casa da Ospa, disponibilização de álcool gel aos visitantes, uso obrigatório da máscara, medição de temperatura na entrada, distanciamento social nos espaços de passagem e na ocupação das poltronas da Sala de Concerto. Também é possível acompanhar os concertos da Ospa gratuitamente e ao vivo pelo canal da orquestra no YouTube e pela plataforma #CulturaEmCasa. A partir de 18 de outubro, o público deverá apresentar um comprovante de vacinação para acessar os concertos.
Manfredo Schmiedt (regente – Brasil)
Com vasta experiência coral e orquestral por todo o mundo, Manfredo Schmiedt é o maestro do Coro Sinfônico da Ospa desde 1992. Possui mestrado em Regência pela Universidade da Geórgia (EUA) e graduação na mesma área pela UFRGS. Seu currículo acadêmico inclui duas importantes condecorações: Pi Kappa Lambda Music Honor Society e Director’s Excellence Award. Apresentou-se, como convidado, em destacadas orquestras do mundo, como a Filarmônica de Mendoza (Argentina), a Orquestra Sinfônica da University of British Columbia (Canadá), a Filarmônica de Belgrado (Sérvia), a Sinfônica do Noroeste da Flórida (EUA) e a Petrobras Sinfônica (Brasil). Entre 2002 e 2020, foi regente e diretor artístico da Orquestra Sinfônica da Universidade de Caxias do Sul (UCS).
Matheus Kleber (acordeon – Brasil)
Matheus Kleber é acordeonista e pianista. Graduado em Composição Musical pela UFRGS e mestre em Estudos Instrumentais e Performance Musical na UNICAMP. É professor na Fundarte e no projeto OUVIRAVIDA. Participou de mais de 80 discos, entre eles “IDA”, trabalho autoral em duo com o violonista e bandolinista Pedro Franco e o CD “Congruências”, seu primeiro álbum solo lançado em 2016. Como solista ou arranjador, atuou com as orquestras Sesi/Fundarte, Orquestra de Sopros Eintracht, Orquestra Unisinos Anchieta, Orquestra de Câmara da Ulbra, Orquestra de Câmara do Theatro São Pedro e Orquestra Sinfônica de Porto Alegre – Ospa.
Thiago Colombo (violão – Brasil)
Thiago Colombo é professor da UFPel, bacharel e mestre em música pela UFRGS e doutor pela UFBa. Ainda muito jovem, foi premiado em concursos no Brasil, Argentina, Portugal e Espanha. Em 2003, lançou seu primeiro CD solo, intitulado “Sonata”, que recebeu três prêmios Açorianos, e foi seguido de “Reminiscências” (2006) e “Trezegraus” (2009). Nos últimos anos, tem trabalhado como concertista, professor e palestrante em festivais brasileiros e na Argentina, Uruguai, Peru, França, Rússia, Itália, Alemanha, Inglaterra, Holanda e Portugal. Em 2017, lançou pelo selo britânico TRL Records o álbum “Latin Guitar Connections”, gravado na Bath Spa University, em Bath (Inglaterra), e vencedor de dois Açorianos na categoria Música Instrumental.
