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Um ano após a enchente, CCMQ reflete sobre memória e reconstrução

Doze meses depois do maior desastre climático do RS, a instituição revisita seus impactos e o processo de recuperação do prédio

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A imagem mostra a fachada da Casa de Cultura Mario Quintana, completamente alagado. A água atinge boa parte das portas e janelas no térreo, cobrindo toda a via interna entre os prédios. É possível ver placas e postes de iluminação parcialmente submersos, e ao fundo, uma via externa com mais prédios, também afetada pela enchente. Essa cena reforça o impacto severo das inundações na área urbana retratada, evidenciando a extensão dos danos ao patrimônio histórico e à infraestrutura da cidade.
Os danos foram severos na CCMQ: além de comprometer fachadas e esquadrias, o impacto do desastre causou pane no sistema elétrico - Foto: Divulgação/CCMQ
Por Ascom CCMQ | Edição: Ascom Sedac

Em maio de 2024, a enchente que assolou o Rio Grande do Sul alcançou também a Casa de Cultura Mario Quintana (CCMQ), instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac). A água invadiu o prédio histórico pelo térreo, ultrapassando um metro e meio de altura na Rua Sete de Setembro. Os danos foram severos: além de comprometer fachadas e esquadrias, o impacto do desastre causou pane no sistema elétrico, deixando o edifício sem luz por mais de três meses. Foram 101 dias de portas fechadas. Durante esse período, todos os esforços se concentraram na limpeza, manutenção e restauração da infraestrutura essencial para garantir a segurança do local. 

A retomada aconteceu de forma gradual. Em junho e julho, a Travessa Rua dos Cataventos voltou a receber atividades ao ar livre, marcando a presença da Casa no cotidiano da cidade e promovendo reencontros com o público. Em agosto, a instituição reabriu parcialmente, retomando sua programação com força e reafirmando seu compromisso com a comunidade, mesmo diante da adversidade.

A imagem mostra três mulheres vestidas com roupas de proteção — calças impermeáveis amarelas, botas e luvas de borracha, além de máscaras faciais — limpando a entrada da Casa de Cultura Mario Quintana. Elas estão usando rodos e mangueiras para remover a lama e a água acumuladas no chão de pedra portuguesa, sinal evidente de que o local foi recentemente atingido por uma enchente. A fachada do prédio é de estilo clássico, com paredes em tom salmão claro e janelas grandes.
Foram 101 dias de portas fechadas; durante esse período, todos os esforços se concentraram na limpeza e restauração da CCMQ - Foto: Divulgação/CCMQ

Ao longo do segundo semestre de 2024, a programação incluiu ações diretamente ligadas ao contexto da enchente. A exposição Reflexos da Emergência, do fotógrafo sul-africano Gideon Mendel, trouxe imagens impactantes da tragédia como parte de seu projeto de mais de 17 anos Drowning World (“Mundo Afogado”, em inglês), em que registra os impactos dos desastres climáticos em diferentes lugares do planeta. O público pôde visualizar nas fachadas da CCMQ retratos de pessoas em frente a suas moradias completamente submersas durante a enchente de maio. O trabalho de Mendel inseriu o acontecimento em um contexto macro, revelando tanto as singularidades locais das águas no Estado, quanto os padrões globais da crise climática.

Entre os eventos em destaque, também houve o ciclo Cultura no Antropoceno, uma série de encontros interdisciplinares voltados à reflexão sobre os impactos ambientais da mudança climática. A partir do conceito de Antropoceno, que compreende o ser humano como força geológica capaz de alterar irreversivelmente o planeta Terra, o projeto promoveu debates que entrelaçaram ciência, arte, filosofia e arquitetura. Realizado entre outubro e dezembro, o ciclo contou com conferências, mesas-redondas, oficinas, ações educativas, mostras e intervenções artísticas nas redes sociais, ampliando os olhares sobre a emergência ecológica e convidando o público a imaginar futuros possíveis, a partir de perspectivas plurais, críticas e enraizadas no território.

A imagem mostra a Travessa Rua dos Cataventos, parcialmente submersa por uma enchente. A água cobre toda a área do piso, chegando a uma altura considerável, refletindo a luz e a estrutura dos edifícios ao redor. Os prédios são altos, com sacadas e colunas decorativas, e a cena está iluminada pela luz natural que entra ao fundo, onde se pode ver uma área mais aberta da cidade. A atmosfera é de silêncio e abandono, reforçada pela ausência de pessoas ou veículos.
A água invadiu a CCMQ pelo térreo, ultrapassando um metro e meio de altura na Rua Sete de Setembro - Foto: Divulgação/CCMQ

No mesmo período, o Projeto Educativo da CCMQ lançou uma chamada aberta para oficinas e cursos livres, voltada a propostas que dialogassem com a reconstrução dos espaços culturais depois da enchente. Temas como educação ambiental, crise climática, relação com o território e futuros sustentáveis foram alguns dos temas abordados pelas atividades, que integraram a agenda educativa do segundo semestre de 2024, promovendo a articulação entre cultura, educação e sustentabilidade.

Em 2025, a Travessa Rua dos Cataventos ganhou uma nova intervenção simbólica: uma linha no chão que marca a antiga margem do Guaíba, anterior aos aterramentos do século XIX. O traço tensiona os limites entre intervenções urbanas e natureza, dialogando com uma placa, também instalada na fachada do prédio da Casa, que registra a cota atingida pela enchente e torna visível a altura que a água alcançou dentro do prédio.

Apesar de ter permanecido de portas fechadas por mais de três meses, a Casa de Cultura Mario Quintana recebeu, ao longo de 2024, mais de 250 mil visitantes. O número expressivo revela o desejo coletivo de reencontro com a arte e com os espaços públicos, reafirmando a relevância da instituição como lugar de criação, acolhimento e difusão cultural. De lá pra cá, a instituição segue em plena atividade, cada vez mais fortalecendo seu compromisso com a cultura, a preservação da memória e a construção de novas perspectivas.

O plano anual da CCMQ é financiado pela Lei Federal de Incentivo à Cultura e conta com patrocínio direto do Banrisul, patrocínio prata da Hyundai, Lojas Renner, EDP e Paraflu; apoio de Tintas Renner, Banco Topázio e iSend; e realização do Ministério da Cultura - Governo Federal - União e Reconstrução.

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